Ao romper
do dia 13 de abril de 1918 nascia em Feira de Santana- Bahia,
Valdemira Alves de Brito, filha de Teodora Alves de Brito
e Licínio Gomes. Desde cedo, demonstrou interesse
pelos estudos. Assim, em 1934 colou grau na Escola Normal
de Feira de Santana, recebendo o título de Professora
Primária. Ingressa, por concurso público,
na rede estadual de educação. Em 1945, na
garagem de sua residência, inicia sua Escola particular,
contando com o pleno apoio das famílias e da comunidade
de Feira de Santana.
Vale lembrar que nas primeiras décadas do século
XX o ensino no Brasil passava por transformações
significativas para atender ao projeto civilizador republicano
que via na educação uma das formas de tirar
o País do atraso. Os ideais republicanos de civilização
e democracia, acompanhados pela modernização
das cidades, contribuíram para o surgimento dos centros
de formação de professores, resultando no
aparecimento de um novo sujeito na esfera pública,
a professora, com a missão de educar para o progresso
e a democracia. Desta forma, ergue-se, em 1927, na Princesa
do Sertão, a Escola Rural Normal (num dos prédios
mais bonitos da cidade, restaurado pela UEFS em 1995 onde
atualmente abriga o Museu Regional de Artes e o Centro Universitário
de Cultura e Artes - CUCA) que passa a ser considerada escola
modelo para o sertão baiano, criada, como observa
Ione Celeste de Souza, em Garotas Tricolores, Deusas Fardadas
( 2001) para levar as "luzes e o saber" ao interior
do Estado. Dessa Escola Normal emerge a Professora Valdemira
Alves de Brito. De origem humilde, filha de uma costureira,
que pelo estudo ascendeu socialmente, inserindo-se no processo
de feminização do magistério, descobrindo
na educação o caminho para servir à
sua cidade e ao seu povo.
Projeta uma Escola para atender crianças na educação
infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental.
Uma Escola que se diferenciasse pela disciplina, pela convivência
e pela qualidade do ensino. Ruy Barbosa passou a ser o nome
da Escola. Professores e alunos participaram, mediante discussão
e voto, da escolha do nome. E por 53 anos a Professora Valdemira
Alves de Brito, carinhosamente denominada de Professora
NENA, assim conhecida por seus alunos e por toda a cidade,
a conduziu, na pedagogia e na administração,
com profundo senso de missão, de amor e dedicação.
Com o passar dos anos, a Escola Ruy Barbosa foi conquistando
as famílias de Feira de Santana, ampliando-se e se
constituindo como uma Escola de Referência. Escola
privada, mas sem fim econômico, operando com mensalidades
sempre abaixo dos valores de mercado, sem se descuidar,
no entanto, da qualidade.
A professora Nena sempre representava, no imaginário
da sociedade feirense, a educadora capaz de difundir a moral
, os bons costumes e valores cultivados pelas famílias,
com disciplina e muita autonomia. Soube, ao longo dos 53
anos de prática educativa, gerir a Escola Ruy Barbosa
e enfrentar as dificuldades do seu tempo, os preconceitos
existentes em relação à profissionalização
da mulher como professora, vivenciando mudanças e
transformações na cidade e constituindo-se
num agente importante de perpetuação da prática
pedagógica da Escola Normal e na formação
de futuros cidadãos. Uma professora que, no seu tempo,
conseguiu dar significado ao papel da mulher na sociedade,
podendo ser considerada como um modelo de educadora.
A Escola Ruy Barbosa atraiu ao longo de sua história,
gerações de alunos que, engajados na sociedade
feirense, baiana e brasileira, crescem, avançam nos
estudos escolares, encontrando-se, em sua quase totalidade,
inseridos no universo cultural, contribuindo com o desenvolvimento
do país, nos seus mais diversificados campos,bem
como no fortalecimento dos reais valores apreendidos, dignificadores
do ser humano.
Personalidade forte, autêntica, determinada, amiga,
sincera, servidora. Os amigos confiavam tanto, na professora
Nena, que muitas vezes, quando tinham problemas, conversavam
com ela e marcavam reunião em sua residência
para acordarem desajustes de família, e ela sempre
servia de mediadora entre as partes. Criava laços
fortes de relacionamento com as famílias de seus
alunos. Não eram poucas as vezes, assim nos relata
sua filha e sucessora, Professora Antônia Alves dos
Santos (em entrevista realizada em fevereiro de 2010), que
sempre que os pais se atrasavam na busca de seus filhos
após as aulas, ela os levava para casa e faziam as
refeições com ela na mesa. Era enérgica,
parecendo às vezes autoritária, sem deixar
de ser extremamente meiga e carinhosa.
Educar é, sem dúvida, investir para que professores
e alunos, nas escolas e organizações, transformem
suas vidas em processos contínuos de aprendimento.
É encaminhar os alunos na construção
da sua identidade, do seu projeto de vida, no desenvolvimento
das competências de compreensão, emoção
e comunicação que lhes permitam encontrar
seus espaços pessoais, sociais e profissionais e
tornar-se cidadãos sensíveis, críticos,
realizados e produtivos. Isto a professora Nena vivenciou
com muita dedicação e maestria.
Para a sua filha Antonia Alves Santos, a professora Nena
tinha um sonho: construir uma casa para abrigar pessoas
de idade avançada. Infelizmente não chegou
a realizar o seu sonho. Porém, mesmo com todas as
suas responsabilidades na escola, sempre conseguia tempo
para visitar alguns velhinhos, conversar com eles, e levar
algo necessário para suas vidas: o conforto espiritual
e material.
A professora Nena teve seu trabalho reconhecido pela comunidade
feirense. A Escola tem sido objeto de estudo e pesquisas
acadêmicas. Ela foi homenageada pela Câmara
Municipal de Feira de Santana, em 24/02/1980, dando o seu
nome a uma Escola do Município, quando Prefeito Dr.
Colbert Martins da Silva e Secretário da Educação
o Prof Nilton Belas Vieira. A escola está localizada
na rua Vespasiano, no populoso bairro do Tomba. Em 1982
foi homenageada pela Maçonaria e, em 1992, recebeu
o Troféu Honra ao Mérito do Rotary Clube Feira
Leste, em reconhecimento aos relevantes serviços
prestados pela educadora à educação
na comunidade de Feira de Santana. E, em 2009, a Academia
de Educação de Feira de Santana, na expressão
inequívoca desse reconhecimento, elege a Professora
Valdemira Alves de Brito como Patrona da Cadeira nº
20. Professora Nena faleceu em Feira de Santana no dia 06
de janeiro de 1998.
Enfim, pode-se aplicar à Professora NENA o que diz
Bertold Brecht:
"Se não morre aquele que escreve um livro ou
planta uma árvore, com mais razão não
morre o educador que semeia a vida e escreve na alma".